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Análise

Lula tenta pintar quadro otimista do governo e esfriar crises na véspera da divulgação de pesquisa

Presidente convocou entrevista de última hora e voltou à estratégia de mostrar a situação que encontrou ao assumir o seu terceiro mandato, há dois anos e meio

À véspera da divulgação de uma pesquisa da Quaest que deve mostrar números preocupantes para o governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou de última hora uma entrevista coletiva nesta terça-feira.

O objetivo era se antecipar, traçar um cenário otimista de sua gestão e esfriar as últimas crises.

Durante cerca de uma hora, Lula explorou mais uma vez a estratégia de mostrar a situação que encontrou ao assumir o seu terceiro mandato, há dois anos e meio, e relacionar parte das dificuldades do seu governo à herança deixada por Jair Bolsonaro.

O presidente se esforçou para fugir de temas embaraçosos e evitou revelar decisões que ainda serão tomadas, seja na solução da crise provocada pelo aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) ou nas mudanças nos ministérios.

Antes de responder às perguntas de jornalistas, Lula tentou se mostrar otimista e disse que “tudo que nós pensamos quando tomamos posse e durante a transição está sendo executado”.

Em seguida, citou que os “dados econômicos são os melhores dos últimos anos”. Falou também da retomada dos programas sociais e do PAC, além do projeto de aumento da faixa de isenção do imposto de renda para R$ 5 mil.

Repetiu que irá anunciar novos programas, como a distribuição de gás para famílias mais pobres, o financiamento de reforma de casas e da compra de motos para entregadores que trabalham por meio de aplicativos.

Ao falar sobre Marina Silva (Meio Ambiente) e Fernando Haddad (Fazenda), os dois ministros que estiverem no foco na última semana, Lula tentou demonstrar apoio.

Foi mais enfático, porém, na defesa da titular do Meio Ambiente ao afirmar ter “100% de confiança” nela e elogiar sua lealdade. Em uma resposta sutil aos senadores que a atacaram durante uma sessão no Congresso, destacou que a demora na concessão de licenças não é “má-fé”, mas sim falta de especialistas.

Lembrou que o Ibama, responsável pela fiscalização do meio ambiente, teve uma redução de 700 pessoas em seu quadro de funcionários na gestões anteriores.

Com relação à Haddad, Lula justificou que o ministro da Fazenda tinha pressa para resolver o problema da falta de recursos no Orçamento e, por isso, anunciou o aumento do IOF. Negou que o titular da Fazenda tenha errado, mas defendeu que deve haver mais conversa com o Congresso antes do envio das propostas.

Ao citar as fraudes contra aposentados do INSS, tema visto com maior potencial para afetar a popularidade do governo na pesquisa da Quaest desta quarta-feira, Lula deu um o a mais na estratégia de jogar a culpa na gestão Bolsonaro.

Disse que houve um erro no afrouxamento das regras para que as associações fizessem o desconto na folha de pagamento dos beneficiários do INSS no governo anterior, “possivelmente propositadamente”. Para não se comprometer, afirmou que não denunciava de maneira mais enfática o problema porque ainda é preciso apurar.

Também apostou na polarização ao mirar no deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, quando foi instado a comentar a possibilidade de sanções dos Estados Unidos contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Sem citar o nome do parlamentar ou o de seu pai, afirmou ser “lamentável um deputado brasileiro, filho do ex-presidente, estar lá para convocar os Estados Unidos para se meter nas políticas internas do Brasil”. Chamou a iniciativa de “ataque terrorista, antipatriota” e enfatizou que o “deputado renuncia a seu mandato para lamber as botas do (presidente Donald) Trump”.

Mas quando os jornalistas pediram uma resposta para o mistério sobre a troca no comando da Secretaria-Geral, que se arrasta há mais de dois meses, Lula se esquivou.

Ao ser perguntado se pretendia trocar Márcio Macêdo pelo deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) e se gostaria que o vice Geraldo Alckmin e o ministro Fernando Haddad disputassem a eleição em São Paulo no ano que vem, o presidente deu uma gargalhada. Após alguns segundos, respondeu que o repórter havia feito duas perguntas que “sabia que ele não iria responder”.

Mesmo diante da insistência se estava contente com o trabalho de Macêdo, Lula optou por manter o suspense sobre a troca no ministério e foi genérico ao responder que estava “satisfeito com o trabalho de todo mundo”.

Lula ficou em outra sinuca quando questionado por que parou de criticar os juros altos depois que o seu indicado Gabriel Galípolo assumiu a presidência do Banco Central. Disse que o motivo não era a troca do comando da instituição e justificou que a alta já estava sinalizada pela gestão anterior, mas não deixou de dar o seu recado ao afirmar acreditar que “logo, logo, o BC vai tomar a atitude correta de abaixar os juros”.

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