Com discurso preparado sobre crises, Lula e Sidônio trocam gestos e olhares em entrevista
Ministro da Secom conversou pela manhã com presidente da República sobre tópicos de coletiva de imprensa
Principal conselheiro de Luiz Inácio Lula da Silva antes de anúncios e entrevistas, o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, preparou o presidente para a conversa com jornalistas na manhã terça-feira no Palácio do Planalto.
Durante uma hora de declarações à imprensa, Lula e Sidônio trocaram olhares e sinais de aprovação quando Lula tratava de temas considerados sensíveis.
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Enquanto abordou a crise dos descontos indevidos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Lula procurou o olhar de Sidônio cinco vezes. O ministro devolveu com o gesto de quem sinalizava com aprovação.
— Fizemos aquilo que um governo sério faz: colocamos a Polícia Federal e a CGU para fazer uma investigação minuciosa de tudo até chegar nas pessoas que cometeram o erro. E todo o mundo sabe que isso é um erro feito no governo ado, possivelmente propositadamente.
O mesmo ocorreu quando Lula explicou o recuo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no aumento de parte das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Lula afirmou que Haddad não errou e nem teve problema em rediscutir o assunto. Enquanto Lula falava, Sidônio mexia a cabeça positivamente. Outra estratégia foi defender que os líderes devem ser ouvidos antes das propostas mandadas pelo governo:
— Se aparecer alguém com uma ideia melhor, vamos discutir. Essa discussão que acho que temos que fazer é porque nós precisamos dar o voto e crédito aos nossos líderes. Ninguém pode ser líder do governo e o governo mandar alguma coisa para lá sem conversar com eles.
Sidônio acompanhou toda entrevista a pouco mais de um metro de distância de Lula, com o roteiro na mão, e ao lado do Secretário de Imprensa, Laércio Portela. O ministro só foi interrompido em dois momentos, quando recebeu informes impressos de dois assessores. Só tirou do bolso o celular em duas oportunidades, para olhar rapidamente.
Os gestos mais efusivos do ministro ocorreram quando Lula foi questionado se o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) seria ministro da Secretaria-Geral da Presidência. O ministro mexeu as pernas e escondeu o sorriso com a mão quando Lula desconversou sobre a demissão do auxiliar:
— Estou satisfeito com trabalho de todo mundo, todo mundo que está aqui foi escolhido por mim, mas na hora que eu não tiver satisfeito eu troco — disse.
No início da manhã, Lula e Sidônio conversaram sobre temas que poderiam ser abordados na entrevista: medidas compensatórias para parte do recuo do aumento do IOF, decisão do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre recuo no reajuste das alíquotas desse imposto e crise no INSS.
O presidente também reou junto com Sidônio uma série de dados econômicos do governo e dos novos programas que serão lançados nas próximas semanas, como crédito para reforma de residência e para compra de motocicletas para entregadores de alimentos.
De acordo com auxiliares que participam dessas conversas, Lula já tem muitos números na cabeça e o papel da Secom é municiá-lo com novas informações positivas para o governo.
De acordo com relatos, a preparação, no entanto, não abordou os movimentos de Eduardo Bolsonaro junto ao governo americano para impor sanções ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Esta foi a primeira vez que comentou publicamente o caso. Lula afirmou que Eduardo Bolsonaro faz "terrorismo" nos Estados Unidos e fica "lambendo as botas" do presidente Donald Trump. Eduardo responde a um inquérito no STF por coação e tentativa de obstrução de Justiça por, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), atuar para que os EUA apliquem sanções a ministros da Corte, como Alexandre de Moraes.
— Isso que é grave, um ataque terrorista, antipatriota. O deputado renuncia a seu mandato para lamber as botas do Trump — disse Lula.
O ministro acenou com a cabeça concordando com tom da fala de Lula sobre o tema. Também não ou pela preparação o tema da aprovação do projeto que flexibiliza as regras para licenciamento ambiental pelo Senado. O texto agora irá para análise na Câmara. O presidente, que não tinha discutido o tema com assessores, declarou que não tem conhecimento das regras.
— Eu não conheço as regras ainda. Isso vai chegar para eu analisar. Deve ter chegado na Casa Civil, quando chegar a mim eu digo se concordo ou não com as regras.