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DEPUTADA

Antes de deixar o Brasil após condenação, Zambelli disse que "não sobreviveria na cadeia"

Deputada foi condenada a dez anos de prisão pela Primeira Turma da Corte

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) afirmou que deixou o Brasil em direção à Europa. A declaração foi dada nesta terça-feira durante entrevista à Rádio Auriverde, quando a parlamentar disse que sua saída do país ocorreu inicialmente para tratar um problema de saúde. Ela, porém, também citou uma "perseguição judicial", após ter sido condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a dez anos de prisão.

— Estou fora do Brasil já faz alguns dias. Vim, a princípio, buscar um tratamento médico, e agora vou pedir para que eu possa me afastar do cargo (...) Vou me basear na Europa, tenho cidadania europeia. Estou muito tranquila quanto a isso — afirmou.

A saída ocorre menos de um mês depois de ser condenada pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) a dez anos de prisão por supostamente ordenar ao hacker Walter Delgatti que inserisse documentos falsos no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Ao receber a notícia da condenação, a deputada listou problemas de saúde com que diz conviver e disse que já foi internada duas vezes, enfrenta depressão e problemas cardíacos, desmaios e uma síndrome rara, chamada Ehlers-Danlos, que faz "todo o corpo sair do lugar" e causa transtornos de mobilidade.

— Ainda que seja injusta a decisão, eu sigo a lei. Se acontecer a prisão, vou me apresentar. Mas, hoje, não me vejo capaz de ser cuidada da forma que preciso [presa]. Estou pegando vários relatórios dos meus médicos e eles são unânimes em dizer que eu não sobreviveria na cadeia. Vamos apresentar isso também em momento oportuno — afirmou Zambelli na ocasião.

Carla Zambelli ganhou projeção política com o movimento "Nas Ruas", um dos que pressionaram pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT), e com a ascensão de Bolsonaro, de quem foi vice-líder na Câmara. Ela também mantinha proximidade com o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), que foi seu padrinho de casamento, até a ruidosa saída dele do Ministério da Justiça.

Na eleição ada, a deputada sacou uma arma contra um jornalista, militante petista, depois de um bate-boca na rua, na véspera do segundo turno. Bolsonaro já declarou que a situação teria custado a ele a vitória contra Lula (PT), o que ela contesta. Zambelli, por sua vez, disse ter sido abandonada pelo ex-capitão. Além da condenação pela invasão no CNJ e do processo em curso pela ameaça armada, ela também já prestou depoimento à PF anteriormente no inquérito das fake news.

O relator Alexandre de Moraes impôs a ela a pena de dez anos de prisão por invasão a dispositivo informático e falsidade ideológica, sentença referendada em plenário virtual, por unanimidade, pelos ministros Cármen Lúcia, Cristiano Zanin, Flávio Dino e Luiz Fux.

Moraes aponta que Walter Delgatti, a mando de Zambelli, inseriu pelo menos 16 documentos falsos no CNJ. Uma das provas consiste em um arquivo ado pela deputada segundos depois de ter sido criado pelo hacker em seu computador. O relatório da PF apresenta ainda a transferência de R$ 3 mil da cota parlamentar da deputada e R$ 10,5 mil pelas contas de assessores. A transação do motorista, porém, teria sido feita para compra de garrafas de uísque.

A defesa de Zambelli diz que ela não tem nenhuma relação com as invasões ao sistema do CNJ, que contratou o hacker para prestar um serviço de melhoria do seu site nunca entregue e que isso está comprovado em trocas de mensagens com funcionários do gabinete. Bialski desqualifica a colaboração premiada de Delgatti dizendo que se trata de um "mitômano", reconhecido como tal pelos próprios investigadores, e mudou de versão constantemente em seus depoimentos.

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