Trump comete gafe em encontro com chanceler alemão na Casa Branca
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se encontrou pela primeira vez com o novo chanceler alemão, Friedrich Merz, na Casa Branca nesta quinta-feira. Líder da maior economia da União Europeia (UE), Merz relembrou o papel dos americanos para a derrota do nazismo na Segunda Guerra Mundial, pedindo que Washington use novamente a sua posição para acabar com o conflito entre Rússia e Ucrânia. No entanto, ao destacar a importância do Dia D, celebrado em 6 de junho — data que marcou o início da vitória dos Aliados —, ele foi interrompido por uma gafe do republicano:
— Este não foi um dia prazeroso para vocês. Não foi um ótimo dia — brincou Trump, em referência à derrota dos nazistas na Normandia, na França.
Merz rebateu chamando o dia de "libertação" da Alemanha:
— Presidente, esta foi a libertação do meu país do regime nazista. Nós devemos a vocês. E essa é a razão pela qual eu digo que os EUA estão, de novo, em uma posição muito forte para fazer algo e terminar esta guerra — reagiu o chanceler. — Vamos conversar sobre o que podemos fazer juntos. Você sabe que nós apoiamos a Ucrânia e que estamos buscando colocar mais pressão sobre a Rússia. A União Europeia fez isso. Nós devemos conversar sobre isso.
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Antes da reunião, no entanto, o clima era de incerteza. Depois de constranger o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa e o ucraniano Volodymyr Zelensky, o temor de uma "emboscada" no Salão Oval se tornou uma realidade na diplomacia. No entanto, apesar da gafe, Trump manteve um tom cortês ao longo do encontro.
— Teremos um ótimo relacionamento com o seu país — disse Trump a Merz no início da coletiva conjunta, parabenizando-o pela eleição.
O chanceler, por sua vez, agradeceu o presidente americano pela hospitalidade e se mostrou aberto para uma relação mais estreita entre Berlim e Washington. Em mais uma ocasião, Merz exaltou Trump como uma figura-central para o fim do conflito no Leste Europeu.
— Ambos estamos pressionando para acabar com essa guerra. Eu disse ao presidente [Trump] que ele é pessoa-chave no mundo que pode fazer isso agora ao colocar pressão sobre a Rússia — apontou Merz. — Nós vamos discutir depois como nós podemos proceder em conjunto, europeus e americanos, e eu acredito que nós todos temos o dever de fazer algo agora.
Gastos militares
O republicano disse na coletiva que não é amigo do presidente russo Vladimir Putin, mas que dialoga com ele, afirmando ter pedido para o chefe do Kremlin não retaliar a "Operação Teia de Aranha", o maior ataque da Ucrânia dentro do território russo. Sem avanços por um cessar-fogo, o presidente americano comparou as partes em conflito a duas crianças brigando:
— Às vezes você vê duas crianças pequenas brigando como loucas. Elas se odeiam e estão brigando em um parque, e você tenta separá-las. Elas não querem ser separadas. Às vezes é melhor deixá-las brigar por um tempo e depois separá-las.
A pressão da Alemanha por mais sanções contra a Rússia acontece no momento em que a Casa Branca condiciona a defesa da Ucrânia ao aumento de gastos militares por parte dos membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), exigindo uma contribuição de 5% do PIB. Recentemente, o ministro das Relações Exteriores alemão, Johann Wadephul, acenou para a proposta. Paralelamente, congressistas americanos e europeus negociam um conjunto de sanções contra Moscou, incluindo sanções secundárias para compradores do petróleo russo. Contudo, ainda falta o aval de Trump para que as propostas sigam.
O estilo direto do novo chanceler, líder do partido de centro-direita CDU, contrasta com o perfil mais reservado de seus antecessores, Olaf Scholz e Angela Merkel — que no primeiro mandato de Trump foi emparedada pelo republicano por sua política de asilo a refugiados sírios. Em fevereiro, Merz causou surpresa ao dizer que o governo americano é “indiferente ao destino da Europa”, mas adotou um tom amigável no encontro.
Tarifas em discussão
Outro tema-chave da reunião entre os líderes são as tarifas. Merz, milionário de 69 anos com histórico no setor corporativo, deve se sentir confortável para negociar com Trump, mas não está claro se ele conseguirá intermediar a questão para a UE.
Nesta semana, Trump aumentou os impostos sobre aço e alumínio em 50%, o que levou a ameaças de retaliação da União Europeia. Em maio, ele ameaçou tarifas de 50% sobre produtos europeus, mas acabou adiando a medida até 9 de julho.
A Alemanha, maior exportadora da UE para os EUA, vê com preocupação entraves comerciais. Há, ainda, um lobby da indústria para que o chanceler volte para casa com um acordo bilateral na área siderúrgica. Hoje, a Alemanha é o maior exportador de carros para o mercado americano, um fatores que pesam a balança comercial entre EUA e UE. A indústria automotiva costuma ser um dos principais alvos da Casa Branca. Algumas empresas, como Mercedes e Volkswagen, já negociam acordos separados com Washington.