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RÚSSIA X UCRÂNIA

Rússia condiciona encontro entre Putin e Zelensky a resultado de reunião na Turquia na segunda (2)

Ucrânia ainda não aceitou comparecer à negociação direta

A Rússia acenou nesta sexta-feira para a possibilidade de um encontro trilateral do presidente Vladimir Putin com os líderes da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e dos EUA, Donald Trump, condicionando-a aos resultados da reunião diplomática convocada por Moscou para segunda-feira em Istambul, que Kiev ainda não confirmou participação. O governo ucraniano tem cobrado um encontro direto entre Zelensky e Putin — e Ancara já se colocou à disposição para sediar uma possível cúpula.

— O presidente Putin declarou em reiteradas oportunidades que está a favor dos contatos de alto nível, mas primeiro devem ser alcançados resultados por meio de negociações diretas entre os dois países — afirmou o principal porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, confirmando que uma delegação será enviada a Istambul.

Moscou propôs na quarta-feira que Kiev particie de uma nova rodada de negociações na Turquia, a ser realizada na segunda-feira. O ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, antecipou que a delegação do país seria liderada novamente pelo assessor presidencial Vladimir Medinsky, que foi o principal representante do Kremlin durante as primeiras conversas, realizadas em 15 de maio. O perfil da delegação russa, formada principalmente por burocratas de médio escalão, foi criticado pelo lado ucraniano, com Zelensky chamando o grupo de "elenco de figuração".

Em resposta à proposta russa para um novo encontro, a Ucrânia se disse disposta a participar, mas as exigências por parte de Kiev incluiriam uma manifestação russa de que as novas negociações serão "construtivas", conforme declarou o chefe da istração presidencial ucraniana, Andri Yermak, na quinta-feira, e que Moscou apresentasse com antecedência um memorando com "condições para a paz" — durante a primeira negociação direta, as partes concordaram em reduzir a termo suas exigências.

O Kremlin, contudo, rejeitou a exigência ucraniana de apresentar de forma antecipada seus termos — embora o próprio Lavrov tivesse afirmado, na sexta-feira da semana ada, que um memorando estava sendo preparado e seria entregue "em breve" — e continua a exigir que Kiev aceite participar da reunião e tomar conhecimento das demandas para a paz na mesa de negociações.

A estratégia é vista com desconfiança pelo lado ucraniano, uma vez que até aqui, as demandas russas tem sido apontadas como termos para um "não acordo" — ou seja, demandas tão distantes de um possível consenso que impedem que se chegue a alguma proposta considerada viável, mesmo que o outro lado faça algumas concessões. Zelensky falou durante a semana em uma "manobra russa" pela negativa de transparência, enquanto o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Gueorguii Tykhii, disse que "o medo dos russos de enviar seu 'memorando' à Ucrânia sugere que provavelmente contém ultimatos pouco realistas".

Apesar disso, mediadores internacionais tentam fazer com que a janela de diálogo evolua para um fim do maior conflito armado em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial. A Turquia se propôs a ser sede da cúpula entre os presidentes de Rússia, Ucrânia e EUA, que o Kremlin acenou como possível, a depender dos resultados de segunda-feira.

— Acreditamos sinceramente que é possível concluir a primeira e a segunda negociações de Istambul com uma reunião entre Trump, Putin e Zelensky — disse o ministro das Relações Exteriores turco, Hakan Fidan, durante uma visita a Kiev nesta sexta-feira, mencionando que o presidente Recep Tayyip Erdogan também estaria à mesa.

Erdogan se manteve em uma posição de neutralidade ao longo de todo o conflito, sendo uma das poucas vozes no mundo com capacidade de dialogar com Kiev e Moscou sem nenhuma barreira prévia.

Enquanto os desacordos na frente diplomática não se solucionam, a guerra continua seu cotidiano de destruição. Forças russas estão avançando em ritmo acelerado, com reivindicações de conquistas em vários territórios — na quinta, por exemplo, o Ministério da Defesa afirmou ter capturado localidades em Donetsk e Kharkiv. O presidente ucraniano afirmou na terça-feira que a Rússia estaria reunindo mais de 50 mil soldados para intensificar sua ofensiva.

Entre a sexta-feira e o domingo, Moscou lançou os ataques aéreos mais fortes desde o começo da guerra, com mais de 900 drones e 90 mísseis disparados contra a Ucrânia, incluindo Kiev. A intensidade dos ataques fez o presidente americano, apontado mesmo por aliados como simpático à Rússia, chamar Putin de "louco". (Com AFP e NYT)

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