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SAÚDE

'Papa da Amazônia', 'jeito simples', 'senso de ironia': como os cardeais lembram do Papa Francisco

Pontífice morreu aos 88 anos e, segundo religiosos, sempre esteve aberto ao diálogo

Cardeais brasileiros que estarão em Roma para participar do conclave e eleger o sucessor de Francisco lembraram do Papa como um homem aberto ao diálogo, que buscou uma igreja inclusiva, sempre disposta a acolher os mais pobres. Também destacaram a coragem do Pontífice de tocar em temas espinhosos em seu papado, como as críticas às guerras, e sempre de maneira simples, disseram que Francisco era capaz de falar de temas complicados, seja da igreja, da vida ou de seus próprios hábitos.

Reconhecidamente um homem de senso de humor constante, segundo os cardeais, Francisco também foi um Papa que introduziu temas atuais nas discussões católicas, como a necessidade de preservação do meio ambiente, que "é a casa de todos". Por isso, o Pontífice ganhou até mesmo o título de "Papa da Amazônia", por realizar o Sínodo da Amazônia para discutir a região, e seus povos originários, e encontrar novos caminhos para o futuro do planeta.

Cardeal Paulo Cezar Costa, da Arquidiocese de Brasília
Dom Paulo Cezar Costa afirmou que, mesmo num dia de festa para Brasília, que completa 65 anos, o dia era de tristeza, de sentimento de orfandade. Costa destacou a proximidade de Francisco dos pobres e ao mesmo tempo classificou o Pontífice como um "homem muito antenado".

— É um sentimento de orfandade. Parece que nós perdemos o pai. O papa Francisco sempre se manifestou como uma pessoa extremamente próxima do povo, um homem de uma simplicidade muito grande. Ele era capaz de falar das coisas mais complicadas, seja da vida da Igreja, da vida da humanidade, ou das coisas mais simples da vida do dia a dia. Se nós olharmos bem, foi um pontífice que tratou todos os grandes temas do mundo nesse momento histórico — afirmou o cadeal, dizendo que o papa era um 'homem muito antenado".

O cardeal lembrou que Francisco tratou de temas difíceis, como a questão da migração e defendeu que o Mediterrâneo não 'podia er um cemitério de pessoas', além de se posicionar contra as guerras. Observou que o Papa colocou a questão ecológica no centro das discussões, e é preciso cuidar da 'casa comum' e disse que tratar da questões do meio ambiente 'fazia parte da igreja'.

Dom Raymundo Damasceno Assis, arcebispo emérito da Arquidiocese de Aparecida
Amigo pessoal de Francisco, Dom Raymundo Damasceno, disse que a morte do Papa traz pesar a todas as religiões. O cardeal lembrou que Francisco cunhou a expressão "igreja missionária", que deveria ir sempre ao encontro dos mais pobres. O amigo destacou a simplicidade do Papa e também seu senso de humor.

— Tornou-se um Papa muito humano, gostava de contar piada e tinha um senso de ironia muito grande. Deixa um legado para a igreja e para a humanidade — relembrou ele, que disse que seu sucessor deverá ter o perfil de um Papa também aberto ao diálogo, com uma igreja missionária, que acolhe os mais sofridos, os mais pobres.

Damasceno é o único cardeal brasileiro da lista de 'papáveis' que não poderá votar, mas poderá ser eleito no conclave que vai escolher o novo Papa. Isso ocorre pela regra que prevê o direito ao sufrágio apenas a cardeais com 80 anos — ele tem 88 anos.

Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo da Arquidiocese de Manaus
O cardeal Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus, descreveu Francisco como "o Papa da Amazônia" e exaltou o legado de Jorge Mario Bergoglio para a região. Steiner afirmou que o Pontífice era um homem preocupado com as pessoas da Amazônia, especialmente os povos originários, os pobres e os mais necessitados.

— Um homem profundamente preocupado com as pessoas daqui, com os povos originários, com os pobres, com os mais necessitados. Era o Papa da Amazônia — disse o cardeal em entrevista à rádio Rio Mar, de Manaus.

Cardeal Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo da Arquidiocese de ManausEscreva a legenda aqui

O cardeal Steiner destacou a importância do Sínodo para a Amazônia, realizado em 2019, em Roma, como um marco da preocupação do pontífice com a floresta e seus povos.

— A Amazônia vai dever muito ao Papa Francisco. Ele levou a Amazônia para o mundo, o mundo despertou para a Amazônia através de Papa Francisco, e por isso nós somos tão gratos por ele ter recordado a importância que a Amazônia tem. Tem em termos de oxigênio, em termos de meio ambiente, mas em termos também de cultura, mas também em termos do modo de ser igreja — disse o Cardeal.

Dom Sergio da Rocha, arcebispo da Arquidiocese de São Salvador da Bahia
O Arcebispo da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, o cardeal Dom Sergio da Rocha afirmou que o legado do Papa Francisco vai além de seu trabalho dentro da própria igreja católica.

— Posso dizer que os ensinamentos e os gestos do Papa Francisco repercutiram muito na igreja e no mundo não só pelas suas implicações internas na vida da igreja, mas pelo significado ético, religioso, político, de seus ensinamentos. Daquilo que ele fez, realizou e nos ensinou a fazer — afirmou. — O jeito ‘simples’ do Papa encantou o mundo.

Por seguir com os deveres religiosos mesmo em momentos desafiadores de saúde, o cardeal Dom Sergio disse que Francisco foi exemplo de "força", "perseverança", de "seguir em frente e não desanimar".

Dom Orani João Tempesta, arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro
O arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, destacou a preocupação do Papa Francisco com a paz mundial, com o meio ambiente e de sua sinceridade.

— Ele foi alguém muito próximo das pessoas, próximo do mundo de hoje, as preocupações com a paz mundial, preocupação dos povos e necessitados, a preocupação também com o meio ambiente. Acho que seu legado de proximidade, de ser sincero e de abertura permanecerá — disse o Cardeal Orani Tempesta.

Dom Orani destacou a importância da Jornada Mundial da Juventude, realizada no Rio, com a presença do Pontífice na vida de muitos jovens que participaram do evento.

— Até hoje eu encontro jovens, não mais jovens, que em 2013 foram impactados pelo santo Papa. Ontem mesmo, o menino que ele tomou no colo e disse que queria ser padre mandou uma mensagem, ele está em Mato Grosso. A gente encontra essas pessoas que foram impactadas pela presença do Santo Padre.

Dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo da Arquidiocese de São Paulo
O cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, afirmou que não será uma surpresa se o próximo conclave, a ser convocado para escolher o substituto do Papa Francisco, aponte um representante da África ou da Ásia. Cardeais dessas regiões ganharam mais espaço na igreja, inclusive no papado de Francisco, superando a predominância europeia, lembrou Scherer.

— Mais do que ninguém, ele fez escolhas com relação à periferia. Mais do que ninguém, escolheu cardeais de fora dos eixos referenciais comuns, que eram as grandes metrópoles, os grandes centros, escolhendo cardeais onde a presença da Igreja é mínima, dando a chance de ouvir aqueles lugares — afirmou Dom Odilo.

Para Dom Odilo, o Papa Francisco deixa um legado de simplicidade e de reformas internas e externas na Igreja, atuando para correção de “chagas” dentro da instituição. Ele destacou a firmeza na busca de correção de certos desvios morais dentro do clero, algo que ele fez com muita coragem.

Dom João Braz de Aviz, ex-prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica
O cardeal mora em Roma, na Itália e afirmou a Rede Vida de Televisão, ligada ao público católico, que amanhã mesmo já haverá encontros entre cardeais locais acerca do conclave que escolherá o novo Papa. Ele foi nomeado em 2012, pelo Papa Bento XVI.

— Amanhã nós começamos às 9h as reuniões preparatórias para o conclave. Essas reuniões ainda não sabemos o quanto vão durar. Depois disso, vamos ver o que a Santa Sé vai programando. O que sabemos é que amanhã, aqui no Vaticano, na Ala Paulo VI teremos já essas reuniões — limitou-se a dizer.

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