Adaptação climática com justiça: reflexões sobre a CBA19 em Pernambuco
Entre os dias 12 e 16 de maio de 2025, Recife sediou um evento de relevância global: a 19ª Conferência Internacional sobre Adaptação Comunitária às Mudanças Climáticas (CBA19) - 19th International Conference on Community-Based Adaptation to Climate Change. Promovida pelo International Institute for Environment and Development (IIED), em parceria com o governo do estado de Pernambuco e o Instituto Clima e Sociedade (ICS), a conferência marcou um momento histórico por ser a primeira edição realizada na América Latina, em um país que se prepara para sediar a COP30.
O evento reuniu 390 participantes de 78 países, incluindo pesquisadores, gestores públicos, líderes comunitários, organizações internacionais e representantes da sociedade civil. O objetivo comum: debater, construir e propor soluções reais de adaptação climática baseadas em contextos locais - uma abordagem que reconhece que as respostas aos impactos do clima devem partir das realidades específicas de cada território, especialmente daqueles mais vulneráveis.
Tive a honra de participar como anfitriã, contribuindo com a sessão “Equitable urban adaptation - pathways to fair and inclusive resilient cities” (Adaptação urbana equitativa - caminhos para cidades resilientes, justas e inclusivas). Na apresentação intitulada “Cidades Inclusivas e Resilientes: Estratégias para uma Adaptação Urbana Justa e Equitativa em Pernambuco”, compartilhei reflexões e estratégias que têm sido desenvolvidas no estado para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas em áreas urbanas historicamente negligenciadas.
A sessão destacou como eventos extremos - como chuvas intensas, alagamentos, ilhas de calor e deslizamentos de terra - agravam as desigualdades sociais, sobretudo em comunidades periféricas que já enfrentam escassez de infraestrutura, serviços públicos precários e alta vulnerabilidade socioeconômica. Discutimos, com base em evidências e experiências locais, caminhos possíveis para uma adaptação urbana centrada na justiça climática, considerando também os impactos intersetoriais na saúde, na educação e na geração de renda.
Os cinco dias de conferência foram intensos e transformadores. A programação incluiu mesas-redondas, workshops, dinâmicas colaborativas e visitas de campo a territórios de resistência e inovação climática - como comunidades urbanas e rurais de Pernambuco que vêm implementando soluções concretas de adaptação e mitigação ambiental. Mais do que compartilhar dados e modelos, a CBA19 foi um espaço de escuta, empatia e valorização do saber popular - elementos essenciais para que políticas climáticas não se tornem apenas metas técnicas, mas instrumentos de transformação social.
A crise climática já está entre nós. E seus efeitos não são apenas ambientais: ela é também uma crise de desigualdade, pois atinge com maior intensidade aqueles que menos contribuíram para o problema e que dispõem de menos recursos para enfrentá-lo. Por isso, eventos como a CBA19 são fundamentais. Eles reafirmam que adaptação climática não é um luxo - é uma urgência. E que ela precisa ser, acima de tudo, justa, participativa e enraizada nas realidades locais.
Como pesquisadora, professora e cidadã pernambucana, saio da conferência com o compromisso renovado de seguir contribuindo com ações, estudos e projetos que fortaleçam comunidades diante dos desafios climáticos.
___
Os artigos publicados nesta seção não refletem necessariamente a opinião do jornal. Os textos para este espaço devem ser enviados para o e-mail [email protected] e am por uma curadoria antes da aprovação para publicação.