A integração agroflorestal: oportunidade para a Zona da Mata pernambucana
A história agrícola da Zona da Mata pernambucana está intimamente ligada à cultura da cana-de-açúcar e seu desenvolvimento agroindustrial. Contudo, a concorrência com outras regiões planas e de alta produtividade exige que a região se reinvente. Nesse contexto, a topografia acidentada, antes vista como uma limitação, abriu espaço para a adoção de um modelo mais sustentável e economicamente viável: a integração agroflorestal. Essa abordagem combina o plantio de florestas comerciais com a pecuária de corte e vem se consolidando como uma alternativa promissora.
Um exemplo marcante dessa transição está em Jaqueira, a 125 quilômetros do Recife. No pequeno município, a Agropecuária Mata Sul implementa um modelo de integração agroflorestal em 700 hectares, onde convivem 200 mil árvores de espécies como eucalipto e mogno africano e 5 mil cabeças de gado das raças nelore e aberdeen angus. A iniciativa comprova que produtividade e sustentabilidade podem caminhar juntas. A sombra das árvores, além de proporcionar conforto térmico ao gado, ajuda a evitar a degradação do solo. O empreendimento ainda se destaca pela captura de carbono e pela venda de créditos, alinhando-se às medidas globais de combate às mudanças climáticas.
Os benefícios econômicos desse modelo também são significativos. A valorização da arroba do boi no mercado, verificada na entressafra de 2024, estimulou a ampliação do rebanho em 20% e a introdução de sistemas de confinamento para parte dos animais. Simultaneamente, o cultivo de eucalipto e mogno africano oferece um ciclo de longo prazo, com retorno financeiro garantido. A primeira colheita de eucaliptos está prevista para 2028, e com ela será iniciada a operação de uma madeireira, ampliando as atividades da empresa. Essa nova unidade deve gerar empregos e fortalecer a economia local, uma contribuição relevante para municípios como Jaqueira, que enfrentam a estagnação econômica depois do declínio das usinas de cana locais.
Outro ponto estratégico do projeto é a exploração de créditos de carbono, regulamentada pelo governo federal, em 2024. A preparação para atuar nesse mercado começou antes, com a empresa já contabilizando o carbono sequestrado pelas florestas. Esse fator representa uma nova frente de faturamento, especialmente para empreendimentos que lidam com emissões de gases de efeito estufa.
A modernidade também se reflete no uso de tecnologias avançadas. Painéis fotovoltaicos garantem a geração de energia elétrica própria, enquanto drones e imagens de satélite monitoram o rebanho e grandes áreas de plantio. Essas ferramentas destacam a Agropecuária Mata Sul como discreta referência em inovação no campo.
Além disso, o compromisso com a sustentabilidade é reforçado pela Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Frei Caneca, que protege 630 hectares de Mata Atlântica. Essa é uma das maiores áreas de preservação do bioma ao norte da Bahia, e sua manutenção assegura o equilíbrio ambiental do empreendimento, além de fortalecer a marca da empresa no mercado de negócios sustentáveis.
A integração agroflorestal surge, assim, como um modelo capaz de romper com a lógica predatória da monocultura. Ela promove uma relação mais equilibrada entre produção e meio ambiente, adaptando-se às características topográficas da região e garantindo maior estabilidade financeira. A diversificação das atividades protege o território contra oscilações de mercado e mudanças climáticas, demonstrando que é possível aliar desenvolvimento econômico à preservação ambiental.
Ao apostar na integração agroflorestal, a Zona da Mata Sul dá um o importante rumo a um futuro mais sustentável e equilibrado. Que esse exemplo inspire novas iniciativas e contribua para transformar o setor agropecuário pernambucano, provando que é possível produzir mais, melhor e com responsabilidade.
Diretor na Agropecuária Mata Sul.
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