Lavagem de dinheiro do CV usava produtoras de bailes; esposa de Poze foi beneficiada, diz polícia
Viviane é suspeita por se beneficiar da lavagem de mais de R$ 250 milhões do Comando Vermelho
Uma operação da Polícia Civil que visa a desarticular o núcleo financeiro do Comando Vermelho — responsável por lavar mais de R$ 250 milhões — revelou que Viviane Noronha, esposa do cantor MC Poze do Rodo, era uma das beneficiadas pelo esquema. Ela teria recebido valores milionários por meio de empresas de fachada e produtoras de bailes funk que atuavam no interior do Complexo do Alemão.
— Nessa investigação, Viviane Nogueira, tanto como pessoa física quanto jurídica, recebeu valores do tráfico, especialmente da cúpula do Comando Vermelho. Ela também recebia dinheiro por meio de laranjas — afirmou Jefferson Ferreira, delegado da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE).
Segundo a polícia, a principal produtora investigada é a Leleco Nacional, responsável por shows de MC Poze do Rodo — que foi preso por suspeita de apologia ao crime. No entanto, os investigadores deixaram claro que o funkeiro não é alvo desta operação.
Leia também
• "Quem leva fortuna do INSS contra idosos fica tranquilo", diz desembargador em decisão sobre MC Poze
• Esposa de MC Poze reclama da atuação da polícia e diz que operação tem relação com soltura do cantor
• Operação mira lavagem de dinheiro da cúpula do CV que envolvia Professor e esposa de Poze do Rodo
— Uma das transações suspeitas envolvia essa produtora e pessoas ligadas ao CV. Um exemplo é Gustavo Miranda de Jesus, que trabalhava na parte financeira do traficante conhecido como Professor, morto no último domingo. Ele movimentou cerca de R$ 30 milhões em menos de um ano, mesmo estando cadastrado no auxílio emergencial — detalhou Jefferson Ferreira.
Além da esposa do cantor, a operação também aponta que a facção criminosa, por meio dessas produtoras, realizou um depósito para Mohamed Hussein Ahmed, cidadão egípcio classificado pela polícia como suspeito de atuar como operador de valores para a Al-Qaeda, segundo dados de cooperação internacional.
De acordo com a investigação, ele teria recebido um depósito feito pela produtora Leleco Nacional. A polícia, no entanto, nada soube especificar o que fez com o dinheiro e de quanto era a quantia.
— Já fizemos diversas investigações importantes sobre lavagem de dinheiro do tráfico, com bloqueios de bens e valores que somam mais de R$ 6 bilhões até o momento. Essa nova apuração, com foco no traficante Professor e no braço financeiro da facção, identificou R$ 250 milhões. A DRF monitorou todas as movimentações financeiras — declarou o secretário de Polícia Civil, delegado Felipe Curi.
Entenda a engrenagem de lavagem de dinheiro:
De acordo com a polícia, empresas de fachada e produtoras de eventos de bailes no interior do Complexo do Alemão eram alimentadas com dinheiro do tráfico. Por meio de notificações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), os investigadores identificaram que nomes ligados à cúpula do Comando Vermelho faziam depósitos milionários nessas empresas.
Uma delas é a “Nogueira Influencer”, pertencente a Viviane Noronha, que também foi monitorada. Segundo a polícia, a empresa recebia valores altos de figuras do tráfico.
— Por trás desses bailes e manifestações ditas culturais, existe um esquema criminoso envolvendo tráfico de drogas, armas, diversos crimes violentos e até homicídios — ressaltou Felipe Curi.
A polícia identificou duas frentes principais na engrenagem de lavagem de dinheiro:
Gustavo Miranda de Jesus, ligado ao traficante Professor e à cúpula do Comando Vermelho, investia dinheiro do tráfico em empresas de fachada, produtoras de bailes no Alemão e até em um restaurante em frente ao Hospital Getúlio Vargas. Embora cadastrado no auxílio emergencial, movimentou mais de R$ 100 milhões em um ano por meio do restaurante.
As produtoras de bailes e empresas realizavam depósitos em contas de terceiros, como a da influenciadora Viviane Noronha. Apenas a produtora Leleco Nacional teria movimentado mais de R$ 50 milhões em menos de um ano, segundo relatórios do Coaf.
Segundo Jefferson Ferreira, a Polícia Civil cumpriu mandado de busca e apreensão na residência de Viviane Noronha na manhã desta terça-feira e bloqueou seus bens móveis e imóveis. No total, 38 contas foram bloqueadas.
— Viviane foi alvo nesta fase da operação. Além das produtoras, ela contava com um laranja que reava valores para ela — afirmou o delegado da DRF.
A investigação também identificou outras pessoas por trás das movimentações. Além de Gustavo, Matheus Mendes também transferia valores para Viviane. Outro nome citado é Nikolas, conhecido como Hurley, que seria segurança do traficante Doca e movimentava valores em nome da produtora Leleco Nacional.