Igreja da Candelária, no Rio, faz 250 anos nesta sexta (6) ; templo foi palco de momentos marcantes
Igreja icônica do Rio comemora 250 anos do início da sua construção
O Rio de Janeiro celebra, nesta sexta-feira, os 250 anos da Igreja de Nossa Senhora da Candelária, um dos mais importantes marcos religiosos, históricos e arquitetônicos da cidade. A data faz referência à bênção da primeira pedra do atual templo, realizada em 6 de junho de 1775, quando se iniciou oficialmente a construção da grandiosa igreja que se impõe na paisagem do Centro. Em seus dois séculos e meio de existência, a Candelária já foi palco de momentos marcantes.
Entre os casamentos que chamaram a atenção da sociedade carioca , ficaram na memória a união da socialite Antônia Mayrink Veiga e Guilherme Frering, em 1985, e a dos então jovens atores Cláudia Raia e Alexandre Frota, um ano depois. A cantora Kelly Key e o empresário e ex-jogador de futebol angolano Mico Freitas, também se casaram ali, em 2004.
Mas não foram só casórios badalados que marcaram a história da famosa igreja. Concertos de música clássica que lotaram os 400 lugares do local também foram uma constante, e acontecem até os dias de hoje. Em 1978, por exemplo, houve uma marcante apresentação do projeto Aquarius sob regência do maestro de Isaac Karabtchevsky.
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O templo ficou marcado também pelo que aconteceu do lado de fora. Posicionado no cruzamento das duas principais avenidas do Centro — a Rio Branco e a Presidente Vargas — foi testemunha desde manifestações contra a ditadura de 1964 — como o protesto após missa de sétimo dia do estudante Edson Luís — às manifestações pelas Diretas Já, na década de 1980, por exemplo.
O nome da Candelária também ficou gravado em um dos mais tristes episódios de violência policial na cidade quando oito jovens em situação de rua, com idades entre 11 e 19 anos, que dormiam nas proximidades da igreja, do outro lado da rua, foram assassinados por PMs de folga na madrugada de 23 de julho de 1993.
Nesta sexta-feira, os 250 anos da Candelária serão marcados por missa solene presidida pelo Cardeal Orani João Tempesta, com a participação de coral e orquestra. Após a celebração será descerrada placa comemorativa pelos dois séculos e meio da igreja.
— Celebrar os 250 anos da Bênção da Pedra Fundamental da Igreja Nossa Senhora da Candelária é, para nós, uma oportunidade. Primeiro, de ver a Igreja sempre presente no centro histórico desta cidade, com um templo que, além da sua beleza arquitetônica, com sua importante posição sob o tempo histórico-cultural, marca o centro da cidade. A Igreja da Candelária, com sua beleza, sua presença e sua localização, é um marco no Centro do Rio de Janeiro — disse dom Orani.
O 6 de junho marca a bênção da primeira pedra utilizada no início das obras. O bloco de rocha foi retirado, assim como os demais usados em toda a construção, de uma pedreira no Catete, na altura da atual rua Bento Lisboa, que, não por acaso, foi denominada “pedreira da Candelária”. Os trabalhos levaram tempo para serem concluídos. Em 1811, houve uma inauguração parcial, com direito à presença do Príncipe Regente Dom João e outros membros da realeza de Portugal, que haviam chegado ao Brasil pouco mais de três anos antes. Somente em 10 de julho de 1898, 123 anos depois, a Igreja da Candelária foi completamente inaugurada em cerimônia solene presidida pelo então bispo do Rio, Dom Joaquim Arcoverde.
A história da Candelária começou muito antes da atual igreja ser erguida. Tudo teve início com uma promessa feita pelo casal espanhol Antônio Martins da Palma e Leonor Gonçalves. Os dois atravessavam o Atlântico quando foram surpreendidos por uma violenta tempestade e, em um ato de devoção, prometeram erguer uma capela dedicada a Nossa Senhora da Candelária no primeiro porto em que chegassem a salvo. E foi no Rio que cumpriram a promessa. Não existe consenso entre historiadores sobre a data desse primeiro templo, a estimativa é de que teria sido construído entre 1600 e 1630.
Vitrais feitos na Alemanha
Na igreja atual, a saga do casal pioneiro e a história da própria Candelária é contada em seis painéis impressionantes pintados pelo artista João Zeferino da Costa. Estão ali nos murais retratadas as cenas que representam a partida Antônio e Leonor da Ilha de Palma, na Espanha, a tempestade, a chegada ao Rio, a promessa cumprida com a primeira igreja erguida, a bênção da pedra fundamental e inauguração do templo.
Na parte do coro, bem acima da entrada principal, vitrais desenhados pelo mesmo artista foram produzidos pelo renomado Estabelecimento de Vidraças Artísticas, de F.X. Zettler, em Munique, capital da Baviera, na Alemanha. Danificados pelo tempo, as três peças de arte estão em vias de serem enviadas para restauro no país de origem.
— Logo de início, me encantei com as pinturas do Zeferino: a abóbada, a cúpula e a capela-mor. Vi as s dele e questionei o provedor sobre a documentação. Para minha surpresa, havia um arquivo excepcional, com todas as correspondências, contratos e desenhos preparatórios. Um acervo de primeira linha, muito bem documentado, que me deu base para estudar e discutir a arte do século XIX — explica Márcia Valéria Teixeira Rosa, professora de História da Arte do Departamento de Estudos e Processos Museológicos da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e coordenadora o projeto "Igrejas Históricas no Rio de Janeiro", que promove visitas mediadas e gratuitas nas principais igrejas da cidade tendo como foco os aspectos históricos e arquitetônicos de cada construção.
Futura Basílica
O provedor Irmandade do Santíssimo Sacramento da Candelária, entidade que istra a Candelária, o senhor Antônio Soares da Silva, comemora os 250 anos e projeto a futuro. Há cerca de um ano foi iniciado o processo para que a igreja, que é tombada pelo Iphan desde 1938, seja transformada em basílica. O requerimento foi enviado para análise da Arquidiocese do Rio. Se aprovado nesta primeira etapa, o próximo o é o envio para Roma, já que a palavra final cabe à Santa Sé.
— Para nós é um orgulho manter esse templo, porque ele marca uma referência para a cidade do Rio de Janeiro. Nós agora, inclusive, estamos tentando transformá-lo de uma igreja normal para uma Basílica. Isso dá uma imponência maior perante o mundo, né? A Basílica da Candelária — diz o provedor.