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descoberta

Essa condição vaginal comum é na verdade uma IST, diz novo estudo

Estudo mostrou que quando ambos os parceiros são tratados após a mulher apresentar um quadro de vaginose bacteriana, há redução no risco de recorrência da infecção

Uma infecção vaginal comum, que deve ser considerada uma infecção sexualmente transmissível (IST), de acordo com um estudo publicado recentemente na revista científica The New England Journal of Medicine. Trata-se da vaginose bacteriana.

"Suspeitamos há muito tempo que é uma infecção sexualmente transmissível porque tem um período de incubação semelhante (após o sexo) à maioria das ISTs e está associada aos mesmos fatores de risco que as ISTs como a clamídia, como mudança de parceiro sexual e não uso de preservativos", diz a primeira autora Lenka Vodstrcil, pesquisadora sênior do Centro de Saúde Sexual de Melbourne na Universidade Monash, em comunicado.

Até o momento, a condição era considerada uma questão exclusivamente feminina. No entanto, metade das mulheres com o problema apresentam recorrência da infecção após a conclusão do tratamento inicial com antibióticos.

De acordo com os pesquisadores, do Centro de Saúde Sexual de Melbourne na Universidade Monash, isso acontece porque a bactéria causadora da infecção pode estar presente no parceiro, que normalmente não é tratado. Quando a vaginose bacteriana foi tratada como uma IST, com ambos os parceiros recebendo antibióticos orais e os homens usando cremes tópicos, a taxa de recorrência caiu em mais da metade, de acordo com o estudo.

"A bactéria que causa vaginose bacteriana pode estar localizada em homens, especialmente na pele do pênis e também na uretra", explica Vodstrcil. "Isso sugere que a vaginose bacteriana é provavelmente transmitida sexualmente, e é por isso que tantas mulheres a têm novamente após o tratamento."

O estudo incluiu 164 casais na Austrália. Todas as mulheres tinham infecções por vaginose bacteriana e estavam em relacionamentos monogâmicos com parceiros homens. Os pesquisadores designaram aleatoriamente os casais para seguir o tratamento tradicional (antibiótico apenas para a mulher) ou para a mulher e o homem, além de o homem aplicar um creme antimicrobiano tópico na pele do pênis duas vezes ao dia por sete dias.

O teste de pesquisa foi interrompido precocemente por um de supervisão de segurança porque era evidente que tratar apenas a mulher era inferior a tratar ambos os parceiros. A taxa de recorrência foi de 65% entre mulheres cujos parceiros não foram tratados e 35% entre mulheres cujos parceiros foram tratados. Alguns homens tratados relataram efeitos colaterais, incluindo náusea, dor de cabeça e gosto metálico.

"Parte da dificuldade em estabelecer se a vaginose bacterianaé sexualmente transmitida é que ainda não sabemos precisamente quais bactérias são a causa, mas os avanços no sequenciamento genômico estão nos ajudando a fechar esse mistério", pontua a pesquisadora Catriona Bradshaw.

Em um editorial publicado junto com os resultados da pesquisa, dois especialistas em doenças infecciosas disseram que a evidência de que as bactérias associadas são transmitidas sexualmente representa uma mudança de paradigma.

As descobertas "também significam a necessidade de uma grande mudança na abordagem de tratamento de mulheres com vaginose bacteriana com relação a como as mulheres devem ser aconselhadas sobre a origem de sua infecção e à necessidade de envolver seus parceiros masculinos no compartilhamento da responsabilidade pela transmissão e tratamento", escreveram os autores do editorial. “Até o momento, não houve estratégias eficazes para prevenir a transmissão sexual de bactérias associadas à vaginose bacteriana, além do uso consistente de preservativos.”

Os sintomas da infecção podem incluir coceira, dor ao urinar, um odor estranho e uma secreção vaginal fina e branca. Para algumas mulheres, no entanto, vaginose bacteriana é uma condição silenciosa, o que dificulta o tratamento.

Se não for tratada, a vaginose bacteriana pode aumentar o risco de contrair outras ISTs, incluindo HIV, e também aumenta o risco de problemas durante a gravidez e o parto. É a causa mais comum de corrimento vaginal entre mulheres em idade reprodutiva. Até agora, não havia como prevenir as infecções.

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