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NEGÓCIOS

Escassez de arroz provoca longas filas no Japão e leva lojas à falência

Embora o país não esteja sem estoque, ainda não se recuperou da colheita ruim de 2023

O forte aumento nos preços dos alimentos após anos de estabilidade está mudando a vida de milhões de consumidores japoneses: enfrentar longas filas e buscar ofertas melhores se tornou parte da rotina na hora de comprar o grão básico da alimentação no Japão. O preço médio de um saco de 60 kg de arroz colhido em 2024 atingiu o recorde histórico de mais de ¥ 26.400 (US$184 ou R$ 1.029), mostra reportagem do Financial Times.

De acordo com o jornal britânico, embora o Japão não esteja sem estoque, o país ainda não se recuperou da colheita ruim de 2023, que coincidiu com o fim do longo período de deflação japonesa e com uma maior disposição dos varejistas para aumentar os preços. Fora isso, os consumidores correram para acumular o produto, além da retenção de estoque por parte dos atacadistas.

Para amenizar a situação, pela primeira vez, o governo recorreu a sua reserva estratégica e, quando parte dessa reserva foi colocada à venda no fim de semana ado, formaram-se enormes filas de várias horas em supermercados de todo o país.

O efeito colateral da escassez e do aumento dos preços, diz o FT, foi criar uma forte competição entre as cooperativas compradoras de arroz — que controlam cerca de 40% do mercado japonês —, os atacadistas e outros compradores em grande escala, como redes nacionais de restaurantes e fabricantes de alimentos.

Cooperativas chegaram a bordar diretamente os agricultores, oferecendo preços fixados em cerca de ¥ 26.000 por saco de 60 kg. Mas agora, segundo analistas ouvidos pelo jornal britânico, essas cooperativas não conseguem vender o arroz por muito menos do que isso sem sofrer prejuízo.

Nos supermercados de todo o país, os preços do arroz cultivado no Japão atingem níveis recordes, as prateleiras estão vazias ou quase vazias e muitas lojas exibem cartazes sugerindo que os clientes com pouco dinheiro procurem carboidratos mais baratos, como pão e macarrão.

Em Atami, cidade litorânea a sudoeste de Tóquio, o estoque de arroz subsidiado de uma cooperativa agrícola havia se esgotado completamente poucos minutos após a abertura das portas. Um casal de idosos contou ao FT que saiu de mãos vazias da loja de produtos agrícolas, pois o produto mais barato já havia acabado quando eles chegaram ao caixa. Ao perguntar sobre quando seria a próxima venda, a cooperativa disse que ainda não sabia.

Restaurantes foram à falência
A disparada no preço do arroz não está afetando apenas o bolso do japonês: um número recorde de restaurantes de curry, um dos pratos mais queridos do país, foi à falência no último ano, aponta reportagem da Bloomberg.

Treze restaurantes de curry com mais de ¥ 10 milhões (US$ 70 mil) em dívidas pediram falência no ano encerrado em março — um recorde pelo segundo ano consecutivo, segundo um relatório da empresa de pesquisa Teikoku Databank, com sede em Tóquio. O número total de falências provavelmente é muito maior quando se consideram os pequenos estabelecimentos familiares, afirmou a Teikoku.

Os preços dos ingredientes básicos do curry japonês — como arroz, especiarias, carne e vegetais — subiram devido à escassez de arroz, ao clima adverso e à fraqueza do iene, segundo o relatório. O aumento nos preços da energia também prejudicou os lucros dos donos de restaurantes.

O curry japonês, um molho espesso de cor marrom com carne e vegetais, geralmente é servido sobre uma cama de arroz. Um prato básico de curry com arroz, um clássico da comida caseira, agora custa ¥ 365 (US$ 2,50) — um recorde, de acordo com a Teikoku.

Durante a pandemia de coronavírus, pedidos para viagem e entregas impulsionaram um boom no consumo de curry — que agora também desacelerou, prejudicando as vendas dos restaurantes, informou a Teikoku.

O governo do primeiro-ministro Shigeru Ishiba tem se esforçado para combater a disparada no preço do arroz no Japão, liberando os estoques do grão antes das eleições para a câmara alta em julho, que, segundo analistas, deve girar em torno do descontentamento popular com a inflação e o preço do arroz.

Ishiba está montando um comitê especial no gabinete para discutir uma reforma urgente na política do arroz. Ele também demitiu seu ministro da Agricultura anterior e nomeou Shinjiro Koizumi — filho do ex-primeiro-ministro Junichiro Koizumi — para resolver a crise.

O Financial Times ressalta que décadas de políticas governamentais se concentraram em sustentar os preços do arroz para agradar o eleitorado rural, que é crucial, mas os preços em alta atingiram milhões de famílias urbanas e transformaram a inflação em um problema político mais amplo para o governo. Muitos criticam o chamado programa de "reserva de terras" do governo, que tentava elevar os preços do arroz incentivando os agricultores a não plantar. A política só foi encerrada em 2018.

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