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Cinema

"Eu não sou um robô": vencedor do Oscar tem mesmo nome e sinopse muito parecida com curta brasileiro

Produção holandesa foi premiada em Hollywood; a de diretora gaúcha foi destaque em Festival de Gramado

"Após várias tentativas frustradas de completar um Captcha, Lara se propõe a responder à inquietante pergunta sobre se ela é um robô". Esta é a sinopse de "Eu não sou um robô", curta-metragem vencedor do Oscar 2025, dirigido pela holandesa Victoria Warmerdam.

Agora preste atenção neste resumo: "após falhar num teste para diferenciar humanos de robôs, Tânia questiona o real".

Ele se refere "Eu não sou um robô", curta-metragem da diretora gaúcha Gabriela Lamas, gravado durante a pandemia, em 2020, e lançado em festivais do Brasil e no mundo, inclusive na Holanda, em 2021.

Nas redes sociais, Gabriela, hoje com 35 anos e moradora de Brasília, apontou essas e outras semelhanças entre o filme ovacionado em Hollywood e o dela, premiado na 49ª edição do Festival de Gramado, em 2021, como melhor roteiro e melhor fotografia de curtas gaúchos.

Além de título e premissa, há afinidades também em algumas cenas.

Gabriela, que assinou o roteiro com Maurilio Almeida e Felipe Yurgel, no entanto, prefere não cravar que houve plágio.

— Fica muito subjetivo, no cinema, (determinar) o que é cópia ou referência — disse ela, em conversa com O Globo, por telefone.

— Acredito que as ideias estão pulsando quando é uma coisa que todo mundo está falando. Essa era uma ideia possível de ter tido em mais de um lugar ao mesmo tempo. Claro que causam surpresa as semelhanças entre os dois. 

A ideia brasileira surgiu a partir de questionamentos de Maurilio Almeida, na época, companheiro de Gabriela.

Os dois moravam juntos em Porto Alegre, e ele era bancário. Frequentemente, se questionava sobre a mecanicidade de suas tarefas, e confinamento pandêmico só fez aumentar as angústias advindas da relação humano-máquina.

A profusão de Captcha (sigla para Completely automated public Turing test to tell computers and humans apart, ou seja, "Teste de Turing público completamente automatizado para distinguir computadores de humanos) em diversos sites deu, então, uma ideia de história. Para prosseguir na navegação de um site, Tânia, interpretada pela própria Gabriela, depara com o desafio de selecionar imagens de "pontes" (e depois "tratores", "semáforos"...) e a a questionar sua própria humanidade.

— "Eu não sou robô" foi gravado durante a pandemia com urgência porque estávamos com muito medo, não sabíamos se ia ter financimento. Resolvemos fazer no apartamento mesmo. Escrevemos o roteiro em uma semana, gravamos em três dias, com uma equipe de três pessoas, respeitando o isolamento. 

A diretora e também protagonista conta que o filme ou por diversos festivais, inclusive o Feminist Cult Film Night, em Roterdã, na Holanda, em 2022, por causa de um convite da curadoria.

—A trajetória desse filme foi bem diferente, os festivais estavam acontecendo online — disse Gabriela, que também dirigiu "Sesmaria" (2015) e "Demônios de Virgínia" (2017).

O "Eu não sou um robô" holandês chegou ao conhecimento da equipe brasileira quando começaram a pipocar os nomes de possíveis indicados ao Oscar 2025. A curiosidade bateu forte quando viram um curta-metragem de mesmo nome.

Ao assistir ao filme e ver as semelhanças, Gabriela foi atrás do produtor do filme, que respondeu ao email explicando que a diretora e roteirista Victoria Warmerdam havia tido a ideia em 2019, mas, por causa da pandemia, só o filmou em 2023.

A brasileira, então, convidou o produtor e a diretora a assistirem ao homônimo brasileiro, enviando um link do trabalho com legendas em inglês. Nunca mais obteve resposta. O Globo procurou o agente da cineasta, mas ainda não teve retorno.

— Queria trocar uma ideia com a diretora, confirmar se eles viram ou não o filme — diz a gaúcha. — Se eles viram durante a escrita ou a realização do roteiro deles, ou a realização. Pela curiosidade, queria conversar com uma realizadora que teve a mesma ideia que a minha.

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