"Como Treinar o Seu Dragão": live-action abre mão da originalidade, mas ganha em qualidade técnica
O filme, que recria a animação com atores e CGI, tem sessões antecipadas a partir deste sábado (6)
“Como Treinar o Seu Dragão” inaugura um novo capítulo na já histórica rivalidade entre Disney/Pixar e DreamWorks. Com sessões de pré-estreia iniciadas neste sábado (7), o filme marca a entrada da subsidiária da Universal Pictures na seara de refilmagens em live-action de animações consagradas, algo que sua maior concorrente já domina há algum tempo.
É difícil não fazer conexões imediatas com o novo “Lilo & Stitch” ao falar sobre o remake de “Como Treinar o Seu Dragão”. Além do fato de um chegar aos cinemas apenas algumas semanas após a estreia do outro, tornando-se um concorrente direto nas bilheterias, as animações que originaram os dois longas guardam coincidências.
Lançado em 2010, “Como Treinar o Seu Dragão” foi codirigido por Chris Sanders e Dean DeBlois, mesma dupla responsável pelo sucesso de “Lilo & Stitch” em 2002. Nas duas histórias, o enredo é centrado na inusitada amizade entre um personagem humano deslocado em seu próprio território e uma criatura fantástica que, a princípio, surge como uma ameaça para aquela localidade.
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Em vez da paisagem paradisíaca do Havaí, o live-action da DreamWorks transporta o público para a acidentada e sombria ilha de Berk, onde vikings e dragões travam uma disputa por território que atravessa gerações. É neste ambiente que vive Soluço (Mason Thames), jovem atrapalhado que alimenta o sonho de matar um dragão e, assim, ser aceito por sua comunidade.
Filho do Chefe Stoico (Gerard Butler), líder da ilha, Soluço acaba revendo seus planos e sua visão de mundo ao conhecer Banguela, um raro exemplar de Fúria da Noite, mais temida espécie de dragão. Após poupar a vida do ser mágico, o adolescente acaba desenvolvendo um vínculo com ele, fato que precisa ser mantido em completo segredo. Por trás da fantasia, estão temas mais profundos, que vão desde o respeito às diferenças até a desconstrução de tradições violentas.
Combinando atores “de carne e osso” com animações realistas e convincentes animações em CGI, a releitura leva às últimas consequências a fidelidade à obra original. Ao contrário de “Lilo & Stitch”, que ousa fazer alterações na narrativa, “Como Treinar o Seu Dragão” mantém o enredo intocado. Salvo algumas exceções, a escalação do elenco também é fiel aos personagens. Gerard Butler, inclusive, foi quem dublou Stoico nas animações.
Mason Thames foi, sem dúvidas, uma escolha certeira para o protagonista do filme. Ainda pouco conhecido pelo grande público, o ator de 17 anos empresta seu frescor juvenil a um personagem que reflete as inseguranças típicas de um adolescente. A química que ele estabelece em cena com Nico Parker - na pele da corajosa Astrid - torna o romance crível e o “ship” inevitável.
A ideia de um live-action de “Como Treinar Seu Dragão” soa desnecessária. Lançada há apenas 15 anos, a animação não precisava de uma nova versão tão cedo. O longa-metragem não marca nenhum ponto no quesito originalidade, sendo uma transposição quase literal da história desenhada para uma nova forma de representação.
Elencados todos os deméritos da ideia, é preciso reconhecer que o longa cumpre com êxito aquilo que propõe fazer. Com um elenco bem escolhido e qualidade técnica inegável, a produção atende bem às expectativas de uma quantidade expressiva do público que tanto reclama das mudanças feitas nos remakes lançados à exaustão. Não promete um novo olhar para a trama já conhecida, mas dá a oportunidade de revê-la - ou encontrá-la pela primeira vez - com a grandiosidade de uma obra filmada para IMAX.