Logo Folha de Pernambuco
Um Ponto de vista do Marco Zero

E depois de Francisco?

Há duas correntes claras na Igreja: a que observa o dogma interno e a que reflete a mudança externa

Pietro Paroli, o diplomata; Luis Tagle, o filipino; Matteo Zuppi, o misericordioso; Pierbattista Pizzaballa, o de Jerusalém. Quem?

Acontece que a questão não é a nominata. Nomes são manchetes. Fotos. Notícia. A questão é mais profunda. Porque se trata de conceitos, de ideias. Do sagrado e do profano. Do eterno e do temporal. Do pensar e do fazer. No contexto de mundo em que a única coisa que não para é a mudança.

Um olhar sobre a história ajuda a compreender o que estamos vendo. No ano 1, d. C., Paulo de Tarso partiu da Galileia para Roma. Deixando os apóstolos em Jerusalém. Foi pregar. Divulgar a palavra de Jesus. E ampliou o horizonte do catolicismo. Não fosse ele e a religião católica teria se limitado a um episódio do Oriente.

No século IV, Santo Agostinho de Hipona (354-430) surgiu como um dos mais importantes filósofos da Igreja. Escreveu obra de grande valor: A Cidade de Deus. Na qual defende que a verdadeira cidadania e a vida eterna são bens do espaço divino. Situou-se, assim, como expressão de uma utopia católica.

De outro lado, surgiu Inácio de Loyola (1491-1556). Fundador da Companhia de Jesus. Cujo trabalho apostólico foi baseado no rigor, na lealdade dogmática. E na dedicação ao ensino, à educação. Cuja rede de escolas e faculdades se estendeu ao Novo Mundo. Foi representante da corrente mais dogmática.

Nos séculos XX e XXI, surgiram Bento XVI e Francisco. Bento XVI foi o teólogo. Francisco foi reformador. Bento, o dogma. Francisco, a mudança. Bento, o eterno. Francisco, a temporalidade. Quer dizer que Francisco não cuidou dos dogmas? Não. Ele cuidou da temporalidade que cerca o dogma. Como no caso do papel da mulher. Embora ainda haja tanto a aggionar (adornar).

De fato, de Paulo de Tarso a Francisco há duas correntes claras na Igreja: a que observa o dogma interno e a que reflete a mudança externa. Um movimento de dentro para fora. E outro movimento de fora para dentro. Mas, entre as duas correntes, subsiste um fio condutor. O Concílio Ecumênico. Uma bússola escritural. Que respeita o núcleo dogmático essencial do catolicismo. E incorpora o que significa adequação cíclica ao desempenho pastoral. O essencial é o eterno. O temporal é pastoral, cola comunitária.

No último século, o catolicismo recebeu contribuição das duas correntes. Apoiadas no fio condutor do Concílio Vaticano II (1962). Convocado por João XXIII (1881-1963). Aggiornamento foi a inspiração principal de João XXIII. Adornar, agregar. Enriquecer. O papa Francisco aplicou alguns pontos contidos no Concílio Vaticano II. Este é o eixo do catolicismo. O Concílio. Consenso. Construído sobre dois pilares: equilíbrio e coragem. Equilíbrio assumindo a coragem para avançar. E coragem para fazê-lo com equilíbrio.

 

Newsletter