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Nem 8, nem 80

Galípolo não Combina com Galope

A Política Monetária Garante a Calibragem dos Juros para Contenção da Inflação

Pelo que me consta, Galípolo não é um jóquei.  Nem muito menos um cavaleiro amador. E por mais que, numa condição eventual de "hobby", possa ele ser um irador de cavalos, parece-me oportuna uma ingênua sugestão de que não se arrisque em galopes. Afinal, para uma efetiva e verdadeira autoridade monetária, esse exercício pode não combinar bem, mesmo que se aposse, respeitosamente, das bênçãos - e até dos poderes - de São Jorge.

Esse roteiro é, tão somente, um destaque para que não seja lembrado um velho e tiste dragão a ser combatido. Esse "bicho anacrônico", com cara e jeito de ilustrativo ser que"cospe fogo", tem nome forte para o nosso "economês" cotidiano: chamam-no de "inflação galopante". Fez parte do nosso simbolismo, por décadas.

Preciso explicar todo esse jogo de palavras, em especial, para os que se sentem desconectados desse mundinho da Economia. O fato que me garantiu esse jeito inusitado de brincar com as palavras e as atitudes do Presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, foi uma mera manobra. Feita com o intuito de marcar um posicionamento, que possa misturar a surpresa  de alguns com a coerência da leitura que se faça hoje sobre a conjuntura econômica. 

E os sinais vieram da última segunda-feira, precisamente, num encontro de Galípolo com "tribos" distintas, que fazem mover a economia. Naquela ocasião, ele antecipou suas expectativas quanto ao comportamento futuro da taxa ds juros. Uma opinião tal, que arregala os olhos de parte de uma base política do governo, que costuma agir com aquela disposição fiscalista convencional. Justo ao contrário dos que nutrem, por outro lado, os impulsos dos mercados com expectativas ou especulações apoiadas no rigor monetário. 

Nem 8, nem 80. Sou adepto de uma ponderação que mire para as circunstâncias postas em xeque, para efeito de condução das políticas econômicas. Claro que é salutar empenhar-se pelo equilíbrio fiscal, diante de riscos inflacionários que insistem permanecer na memória. Ninguém, na sã consciência macroeconômica, deseja   reviver aquele ambiente inflacionário, que faz por resgatar o tal sibolismo do "dragão". Mas é preciso ter também em mente que um país, socialmente desigual e dependente de políticas públicas, não precisa conviver com tanta intensidade num outro extremo, ditado pelo arrocho monetário. Dado o bom momento de outros indicadores socioeconômicos, é importante saber como dosar as terapias fiscal e monetária. 

Assim, nesse cenário de incertezas, valeu toda cautela expressa pelo Presidente do Banco Central, para manter a instituição como guardiã da moeda e segurar os riscos inflacionários. Isso acalma os ânimos de um mercado que só tem-se mostrado mal humorado com o Governo. E que nunca se colocou tão confiante com a missão que cabe a Galípulo. No entanto, os agentes econômicos terão mesmo que cair na real e considerar a aversão de Galípolo por sintomas de retomada da inflação. Por extensão, vale aceitar que, apesar da instabilidade fiscal, há também conquistas a comemorar, já alcançadas pelo Governo. 

Em suma, toda uma complexidade que envolve a dinâmica da economia, costuma mesmo gerar um entendimento de que esse ambiente não é próprio para amadores. Afinal, no papel de agente econômico, o único amador que correspondeu foi justo o que fundou uma das nossas maiores
corporações financeiras.

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