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Coração em dia antes da corrida: quando procurar um cardiologista?

Giordano Parente explica quando buscar ajuda médica para começar a correr

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Com o aumento da prática de corrida de rua, cresce também a preocupação com a saúde do coração. Entenda quando é preciso buscar um cardiologista antes de calçar o tênis e sair para treinar. Em tempos de estímulo à atividade física, a corrida de rua tem ganhado cada vez mais adeptos. Mas junto com o aumento do interesse por esse tipo de exercício, surgem dúvidas importantes: é necessário realizar exames cardíacos antes de começar a correr? Existe algum risco invisível à saúde? A legislação brasileira não exige exames obrigatórios para iniciar uma prática esportiva. Em Pernambuco, por exemplo, é adotado o PAR-Q, um questionário de prontidão que orienta a necessidade ou não de uma avaliação médica.

No entanto, muitos corredores, sobretudo os que já aram dos 35 anos ou têm fatores de risco, preferem não abrir mão de uma consulta com um especialista. Para esclarecer os principais cuidados cardíacos antes de iniciar a corrida, conversamos com o médico cardiologista Giordano Parente, membro do Departamento de Aterosclerose e Prevenção Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Antes de tudo, o especialista destaca que não existe uma regra única, mas que a avaliação clínica inicial é importante.

“O exame clínico, que é a consulta médica — de preferência com um cardiologista — é o mais básico. A partir de elementos como a idade, fatores de risco e histórico familiar é que se decide quais exames solicitar. Uma pessoa de 60 anos, por exemplo, pode necessitar, além do eletrocardiograma, fazer outros exames como teste ergométrico, ecocardiograma e até tomografia do coração.”

Mesmo sem sintomas ou histórico de problemas cardíacos, é comum surgir a dúvida: o eletrocardiograma (ECG) é necessário?

“Como avaliação cardiológica, é importante para quem vai iniciar uma prática de exercício mais intenso. O eletrocardiograma faz parte da consulta cardiológica sempre, mas deve ser interpretado por um cardiologista”, explica Giordano Parente.

A vantagem dos exames, segundo o especialista, está justamente na prevenção de riscos silenciosos.
 
“Exames que detectam obstrução nas artérias do coração e risco de infarto são os mais importantes, mas existem outros que podem detectar arritmias ou defeitos na estrutura do coração, sejam eles congênitos ou adquiridos. Cada exame terá um objetivo diferente.”

Giordano Parente também é corredor

Giordano Parente também pratica corrida - Foto: Divulgação
 
 

Frequência dos exames

Outro ponto levantado na conversa é sobre a periodicidade dos exames. Para quem treina regularmente, há necessidade de repetir os testes todos os anos?
 
“Não existe uma regra definida. Vai depender do risco calculado. Para pessoas de alto risco com exames normais, a frequência pode ser anual. Em outros casos, pode ser a cada dois ou cinco anos. Também depende da intensidade dos treinos e provas.”
 
Sinais de alerta durante a corrida

Alguns sintomas podem indicar que é hora de procurar ajuda médica imediatamente.

“Sim. Dores na região do coração, sensação de batimentos cardíacos acelerados ou descomados, dificuldade para respirar desproporcional ao esforço, redução inexplicada da capacidade física, inchaço nas pernas, tontura, escurecimento visual, sensação de desmaio ou desmaio são sinais que devem ser investigados com urgência.”
 
Importância do teste de esforço

O chamado teste ergométrico — aquele feito na esteira ou na bicicleta — é um dos exames mais solicitados para quem pratica corrida.

“Quando você realiza exames em repouso, como ECG ou ecocardiograma, não simula o que acontece com seu coração durante o esforço. O teste de esforço é mais preciso em detectar anormalidades que só aparecem na atividade física. Por isso, é fundamental para os atletas, incluindo os amadores.”
 
Idade, condicionamento e riscos cardíacos

Segundo o cardiologista, a necessidade de exames também aumenta com o avanço da idade e a baixa aptidão física.

“Como a maioria das doenças do coração aparecem a partir de uma certa idade, a necessidade de exames vai aumentando. Isso vale também para quem tem baixo condicionamento e quer iniciar atividade regular. O condicionamento físico é um dos principais determinantes de risco cardíaco.”
 
E se algo for detectado?

Descobrir um problema no coração não significa se afastar totalmente da atividade física. Pelo contrário.

“A primeira coisa é suspender a atividade extenuante e consultar um cardiologista para investigar e tratar a condição. Durante ou depois disso, o médico poderá indicar o tipo de atividade mais segura. Não existe nenhum tipo de doença que contraindique a prática de atividade física — até mesmo pacientes em fila de transplante cardíaco devem se exercitar, com orientação.”
 
Fatores de risco que merecem atenção

Além da genética, há muitos fatores que precisam ser considerados antes de começar a correr:

“História familiar, pressão alta, diabetes, obesidade, tabagismo, álcool em excesso, colesterol elevado, doenças inflamatórias, apneia do sono e até transtornos como ansiedade e depressão são fatores de risco cardíaco relevantes.”
 
Recomendações para iniciantes

Por fim, para quem está começando na corrida de rua, o recado é claro:
 
“Fique atento a sintomas durante o exercício, mantenha seu check-up em dia e, se deseja intensificar os treinos, procure um cardiologista. A atividade física é um dos maiores aliados da saúde do coração, mas deve ser feita com segurança.”, enfatiza o cardiologista.

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Convidado da coluna Modo Fit
 
Giordano Parente
Cardiologista Clínico
Membro do Departamento de Aterosclerose e Prevenção Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)
@drgiordanocardio
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